ILÉ ÀṢẸ ỌBA ẸGBẸ́ AGBÁRA - IAOEA
A GRANDE TRIBO DA HUMANIDADE
N'Gombo. (O oráculo do povo de Angola)
O verdadeiro jogo de adivinhação da cultura Bantu
O verdadeiro jogo de adivinhação da cultura Bantu se chama Ngombo e tem como seu Deus da adivinhação Nkukua Lunga, entretanto não existe um só tipo de Ngombo, citarei abaixo algumas formas de Ngombo, do culto Ngola Kongo Bantu.
Deixo claro que a prática do Ngombo que me refiro neste texto não veio e não é praticado no Brasil, a finalidade da matéria é a divulgação dos costumes e tradições religiosas do povo bantu, na qual acho importante sua menção, independente se essas práticas se tornaram ou não tradição em nosso país.
NGOMBO IA SISUKA – realizado em um cesto de nome KASANA, feito com folhas de palmeira, onde diversos símbolos feitos com ossos e patas de animais, figuras de madeira denominadas de MAAMBA (representação de espíritos ancestrais), uma espécie de botões, artefatos de couro enfeitados com búzios, etc.... , que são lançados sobre uma esteira de folhas de palmeira denominada KISANA.
NGOMBO IA TIZUKA ou MWISHI – onde é utilizado um cabo de enxada ou de machado ou mesmo a mão de um pilão, que são rolados sobre uma porção de areia para obtenção das respostas positivas ou negativas as perguntas que são feitas.
NGOMBO IA SISALO – uma espécie de haste de madeira onde são entalhados determinados símbolos, que em acordo com a posição frontal que ficam podem ser interpretados.
NGOMBO IA LIZUKA – realizado com dois pequenos bastões de madeira que são rolados sobre a areia, em resposta às perguntas positivas ou negativas e quando suas trajetórias se travam, a resposta é considerada conseguida, um sistema quase idêntico ao NGOMBO ia TIZUKA.
NGOMBO IA KATWA – feito com pequenas cabaças, que de acordo com a posição que ficam depois de lançadas ao chão sobre uma fina esteira, indicam respostas às perguntas realizadas.
NGOMBO IA LUSANGU - as respostas são obtidas através do agito de uma espécie de chocalho de madeira.
NGOMBO IA LUSANGU - as respostas são obtidas através do agito de uma espécie de chocalho de madeira.
NGOMO IA MALIYA – espécie de uma estatueta de madeira que recebe um espelho no ventre, muito utilizada para representar o NKISI NKONDI dos povos do territórios dos MAKONDI, onde o feiticeiro ou olhador do NGOMBO recebe o nome de MUKANGA.
NGOMBO IA KAKUKA – as respostas são produzidas por uma estatueta de madeira toda entalhada com símbolos das MAAMBA que representa os ancestrais tribais, sendo uma das mais antigas formas divinatórias bantu.
NGOMBO IA MBINGÁ – adivinhação realizada com um pequeno pêndulo feito com chifre de búfalo, colocado a uma pequena distância de um painel riscado sobre a areia ou mesmo entalhado em madeira, onde os símbolos indicam as interpretações às perguntas.
NGOMGO IA MUINÁ – feito com peças esculpidas em chifre de búfalo, ITEKE (espécie de amuleto), MUKOTO (casco de alguns moluscos), MAKEZU (espécie de ogbi), DIDATÁ (semente espécie de orogbo), pequenas estatuetas de madeira chamadas de HOMBE e peças de couro adornadas com um tipo de botão e algumas vezes com búzios.
A divindade das práticas divinatórias dos povos de origem Bantu Kongo Ngola, chama-se N’KUKUA LUNGA, pertence ao grupamento das divindades dos cultos de MPANGU BAKURO (divindades ancestrais ligadas aos princípios da cosmogenia segundo visão dos BAKWE, THOKWE, BAKONGO e de algumas ramificações KASANJI).
Está intimamente ligada ao culto de uma divindade pouco conhecida aqui no Brasil denominada de MUKISI MAVU ( divindade geradora do barro ), portanto, seu MBENGE (assentamento) deve ser envultado no barro, recebendo folhas, sementes, pós rituais, cereais, favas, etc... tendo ritual próprio para o sacrifício de alguns animais.
A imantação das peças símbolos dos JINGOMBO, é realizada com obrigações ritualísticas apropriadas que nem sempre exigem sacrifícios animais, mas indispensável é a preparação de pós ritualísticos que recebem além de alguns mineirais, favas, pós de folhas, pós de algumas penas torradas (KISALA), pembas, etc, ocasião em que são entoados alguns JINGOROSI.
Para que as práticas divinatórias se realizem, também é assentado um PAMBU NJILA que também é envultado em barro (argila) impregnada com várias substâncias apropriadas folhas, favas, pós rituais, etc... e sacrifícios animais.
Tanto o MBENGE (Assentamento) de NKUKUA LUNGA como de PAMBU NJILA, não recebem simbologias feitas em nenhum tipo de metal, uma vez que seus cultos antecedem a descoberta do ferro, seus cultos são milenares.
A adivinhação é uma constante, por exemplo, entre as culturas Bantu da África Central – sobretudo nas etnias Cokwe, Lwena, Lucazi, Lunda, Ndembu, Ovimbundu, Ngangela, Lwimbi, Nyemba e Rotse – veremos alguns exemplos da etnia Cokwe de Angola – o “ngombo” ou arte da prática adivinhatória .Os Cokwe distinguem três categorias de especialistas que podem intervir em seus problemas: o Mubiki ( advinho ), o Nganga ( curandeiro / feiticeiro ). O primeiro interpreta os fatos primariamente em função de forças positivas; o curandeiro é um prático que tem grande conhecimento do poder curativo de plantas e de como usá-las ritualisticamente, e por fim, o feiticeiro lida com forças negativas que ele manipula contra suas vítimas.
O mubiki ( adivinho ) lida diretamente com o espírito dos ancestrais, principalmente o dos grandes chefes fundadores dos grupos. Estes espíritos são venerados de diversas maneiras sendo a mais característica o exercício de uma atividade profissional, ou seja, um indivíduo consagrado a um espírito deverá exercer a atividade profissional que o espírito exercia.O mubiki (adivinho) é um dos maiores exemplos disso: exerce esta atividade em honra do espírito ancestral a que é consagrado e o exercício mesmo desta atividade é seu maior ato de veneração.
Os Nganga ( feiticeiros ), lidando com as forças do mal, são a causa das doenças e uma constante ameaça à população. Alguns autores chegam a afirmar que a atividade do adivinho é comparável à de um detetive psicológico que deve pesquisar e descobrir as feitiçarias.
Vários símbolos são usados neste cesto. Símbolos animais são abundantes: o adivinho escolhe certas espécies animais e relaciona seus comportamentos com os problemas concretos trazidos pelos clientes.
A razão da escolha de certas espécies é difícil de explicar. Muitas vezes, aos animais reais são atribuídos traços que os torna fantásticos ou monstruosos, portanto simbólicos e adequados à interpretação adivinhatória.
Existem também as restrições que envolvem animais, principalmente os que fazem parte do grupo usado nas adivinhações. Por exemplo: quando um caçador caça um leão (muanangana na adivinhação), uma pantera (cisenga) ou um tamanduá (njimbu), lhes são interditadas as relações sexuais por três dias porque estes animais “são como pessoas” – o leão e a pantera simbolizam o chefe da terra e o tamanduá, que habita em buracos na terra, são como mortos, isto é, seres humanos.
Pequeno chifre de antílope – o movimento balanceado com relação a pontos brancos e vermelhos pintados no cesto, respondem sim/não (bem/mal) a questões formuladas na sessão.
Pata dianteira de macaco – sua aparição é um bom presságio, o problema vai se resolver.
Pangolim – (um animal parecido com um tatu) – usado para males femininos.
Pata de tamanduá – símbolo do passado, tudo o que está perdido no tempo.
Espinho de porco-espinho – sua aparição na borda do cesto significa algo muito negativo.
O espírito do caçador – caçar é uma atividade muito valorizada e particularmente perigosa, por isso todas as suas interdições rituais. Aqui é usado o dente de um animal abatido em caçada, envolto em tecido vermelho. A aparição deste dente na borda do cesto significa exigências do espírito ancestral quanto ao exercício da caça.
Garra ou unha da águia-real (a maior águia africana) – indica que o problema é causado por feitiçaria.
Pata de um animal chamado kambangu – indica manifestação do mal
Pena vermelha de um pássaro chamado nduua – problemas relacionados com os mortos.
Carapaça da tartaruga – proteção ao ato adivinhatório.
Pata de lagarto das chuvas – denuncia amores secretos.
Cabeça de camaleão – doenças causadas por feitiçaria.
Cabeça de serpente – o mal foi causado por uma cobra enviada por um feiticeiro.
Búzio (carapaça de animal marinho) – usado em questões de gravidez/fecundidade.
São usados ossos, chifres e garras de vários outros animais.
Todos estes elementos são colocados no cesto adivinhatório (um pequeno cesto de palha – quase como um chapéu de palha, com o fundo decorado com pele de gato selvagem ou outros animais, às vezes com casco de tartaruga ou com cabaça). Na sessão, este cesto é “sacudido” e os elementos que aparecem por cima são interpretados. O cesto é sacudido várias vezes de acordo com o diálogo entre o adivinho e o consulente.
Isto dá um grande status ao adivinho e no caso dos Cokwe, este status é reforçado pelo fato de que normalmente o mubiki é o próprio chefe da aldeia. A coragem de denunciar o nganga demanda uma boa dose de prestígio assim como grande conhecimento das forças ocultas em ação. Paraisto a iniciação tem papel fundamental: somente após uma severa iniciação o mubiki será reconhecido.
A iniciação consiste de sacrifícios aos ancestrais e meses de aprendizado com o adivinho iniciador. Ngombo, como é conhecida esta arte na região, significa tanto o cesto usado na adivinhação quanto o espírito do ancestral que preside os atos de adivinhação, que ajuda o adivinho a adivinhar.
Nguzu Kandandu